Um jardim sensorial é um espaço projetado para estimular todos os sentidos — visão, tato, olfato, audição, e até paladar — por meio de plantas aromáticas, texturas, fontes de água, caminhos e objetos interativos. Para crianças com dificuldades de aprendizagem — incluindo transtorno do espectro autista (TEA), TDAH ou atrasos cognitivos — esses ambientes oferecem circunstâncias ideais para observação comportamental, revelando padrões de atenção, interação social, regulação emocional e preferências sensoriais, aspectos que podem enriquecer o diagnóstico clínico e pedagógico.
Como o jardim sensorial auxilia no diagnóstico
- Observação direta de respostas sensoriais
- O comportamento da criança diante de diferentes estímulos (como cheiros intensos ou texturas variadas) oferece pistas sobre sensibilidades ou deficiências sensoriais, contribuindo para abordagem diagnóstica mais precisa.
- Avaliação de atenção e autorregulação
- Crianças com TDAH frequentemente demonstram dificuldade de concentração. Jardins sensoriais causam efeitos emergentes: alguns relatam aumento do foco e redução de impulsividade, enquanto outros evitam estímulos, fornecendo dados valiosos para diagnóstico.
- Inclusão social e comunicação
- Para crianças com TEA, interagir com componentes sensoriais permite analisar habilidades sociais, troca de informação e comportamentos de autorregulação. Estudo em Paranaguá (2024) mostra avanços em interações e bem-estar durante atividades no jardim sensorial.
- Ferramenta complementar ao diagnóstico tradicional
- Atividades em jardins sensoriais, com observação estruturada, complementam testes formais ao permitir avaliação contextualizada, menos artificial, e mais rica em dinâmica social e emocional.
Estes são os principais estudos que tratam do uso de jardins sensoriais em contextos de diagnóstico, aprendizagem e inclusão:
Ano | Autores (local) | Tipo de estudo | População/Contexto | Principais achados |
2024 | Santos (Paranaguá, Brasil) | Qualitativo participativo | 6 crianças com TEA em escola municipal | Melhoras na aprendizagem, motivação e inclusão social com uso do jardim sensorial |
2023 | Silva (Lábrea, AM, Brasil) | Dissertação aplicada | Alunos do ensino fundamental com e sem deficiência | Jardim sensorial como ferramenta de educação inclusiva, com avanço no conteúdo e relação social |
2023 | Maia & Lustosa (PI) | Estudo qualitativo | Crianças com TEA durante pandemia | Identificaram que ausência de estímulos sensoriais afetou aprendizagem; reforça utilidade do ambiente sensorial |
2021 | Abreu et al. (Piauí, Brasil) | Experiência em extensão | Visitas escolares em jardim sensorial | Estímulo de percepção ambiental e memórias, favorecendo aprendizagem e engajamento |
2021 | Santos & Dionísio (revisão literatura) | Análise sistemática | Diversos públicos (incluindo escolares, deficiências) | Benefícios: redução do estresse, bem-estar emocional, inclusão social e maior motivação cognitiva |
Discussão
- Evidência qualitativa consistente: estudos brasileiros recentes mostram que jardins sensoriais promovem avanços em atenção, interação social, engajamento e disposição para o aprendizado em crianças com dificuldade ou deficiência
- Complemento à intervenção clínica e pedagógica: ambientes sensoriais podem evidenciar padrões de resposta e preferências que não aparecem em avaliações convencionais, enriquecendo diagnósticos como TDAH, TEA ou dificuldades de aprendizagem.
- Limitações metodológicas: maioria dos estudos possui desenho qualitativo e amostras pequenas; faltam ensaios clínicos randomizados e padronização de indicadores comportamentais e cognitivos.
Recomendações práticas
- Implementação em escolas e clínicas
- Adotar jardins sensoriais com objetivos diagnósticos claros e instrumentos padronizados, mapeando comportamentos sensoriais, atenção, interação e aprendizagem no ambiente.
- Equipe multidisciplinar
- Psicopedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e educadores devem coavaliar respostas da criança em sessões sensório-motoras, integrando dados ao histórico educacional e clínico.
- Avaliação mensurável
- Utilizar escalas como Perfil Sensorial Infantil (Short Sensory Profile) antes e depois das sessões para identificar mudanças de comportamento, engajamento ou atenção.
- Pesquisa futura rigorosa
- Fomentar estudos com controle randomizado, instrumentos padronizados e análise estatística quantitativa para estabelecer evidências robustas sobre eficácia diagnóstica.
Conclusão
Jardins sensoriais configuram-se como espaços de observação comportamental rica e contextualizada, úteis no diagnóstico e intervenção em crianças com dificuldades de aprendizagem. Embora os estudos recentes apontem benefícios claros — como melhora na motivação, inclusão social e aprendizado — são necessários esforços para produzir evidência quantitativa forte e padronizada. No entanto, desde já, o jardim sensorial representa uma ferramenta baixo custo, acessível e eficaz na abordagem integrativa dessas crianças.
Referências
- Santos, V. L. M. (2024). Jardim sensorial como recurso pedagógico na aprendizagem das crianças com autismo (TEA) Disponível em: currentpediatrics.comacervodigital.ufpr.br
- Silva, F. K. C. (2023). Jardim sensorial como mecanismo de inclusão no ensino fundamental Disponível em: tede.ufam.edu.br
- Maia, J. B. M. & Lustosa, A. V. M. F. (2023). O processamento sensorial e a aprendizagem de crianças com TEA. Disponível em: portaldeperiodicos.ufopa.edu.br
- Abreu, M. C. de et al. (2021). Botânica em cinco sentidos… Disponível em: researchgate.net+1researchgate.net+1
- Santos, V. L. M. & Dionísio (2020). Jardim sensorial… análise da literatura